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Marcelo se lança no colo da Dona Ironia. Este livro está repleto de indiretas, alfinetadas e cutuques. Feito um cowboy texano em galopada, o autor atira para todos os lados: blocos de carnaval, partidos políticos, universidades, líderes mundiais. E nesse salve-se quem puder!, sobra bala até para as ruas e praças e os provincianismos e buracos de sua terra natal.

Todavia, quando esses pequenos estiletes literários se tornam também insuficientes, o cronista das Gerais mergulha em paixões ilusórias, fantasias sentimentais, vãos desejos. Flertes na estrada, aventuras na praia, troca de olhares num bar qualquer são escapatórias para nosso sarcástico e incansável escriba. E, quando nada disso adiantar, Marcelo sabe: basta picar a mula e caçar o caminho da roça.

Deixando ainda o filósofo falar mais alto, o cronista das Gerais nos brinda com citações pinçadas de compêndios de filosofia. Sem o academicismo entediante – e, não raro, pernóstico – que grassa por aí, lança em seus textos pílulas de ensinamento. Fala sobre Kant, Nietzsche, Sartre, Kierkegaard com tamanha naturalidade que, sem querer querendo, instiga os leitores a pesquisar sobre tais escritores, quiçá mergulhar em seu universo. E, atestando mais uma vez sua verve crítica, recorre aos sábios e filósofos de antanho para apontar os (des) rumos desta nação (e das nações alheias).